Sistemas de seguro rural tornam-se progressivamente importantes como instrumentos de gestão de riscos para a atividade agropecuária, diante do desafio global de promover o desenvolvimento econômico sustentável e combater as mudanças do clima. Com o objetivo de aprofundar o conhecimento sobre a relação entre gestão de riscos e sustentabilidade, a Agroicone desenvolveu o estudo “Seguro rural no mundo e alternativas para o Brasil: diferentes desenhos e suas interlocuções com a adoção de boas práticas e tecnologias”.
Foram selecionados para essa revisão nove dos onze países com os maiores valores de produção agropecuária no mundo, sendo eles: Argentina, Brasil, México, Estados Unidos, Rússia, Espanha, Turquia, China e Índia. O objetivo dessa análise foi evidenciar resultados atualizados obtidos por esses sistemas, bem como a estrutura de governança adotada por cada país e as diferentes iniciativas de modernização, principalmente em relação à sustentabilidade da agropecuária via adoção de boas práticas agronômicas.
O que se destacou entre os países estudados é que o seguro rural se fortalece enquanto instrumento de política agrícola, fato que também foi observado no Brasil. O Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), criado em 2006 vem passando por transformações importantes nos últimos anos, com aumento significativo da subvenção ao prêmio, chegando em 2020 a R$881 milhões subvencionados e distribuídos numa área de 13,7 milhões de hectares.
Entretanto, considerando a força do agronegócio brasileiro, fica evidente a oportunidade para o crescimento, ao se comparar com os Estados Unidos, que subvencionou em 2020 cerca de US$6 bilhões numa área de 161 milhões de hectares. “Mais do que uma comparação direta das estruturas de seguro rural entre os dois países, essas diferenças mostram o grande potencial para expansão do seguro rural no Brasil não só enquanto política agrícola, mas como parte da gestão integrada de risco na atividade agropecuária”, afirma o pesquisador e coautor do estudo, Gustavo Dantas Lobo.
O estudo também indica que o seguro rural pode ter um papel importante para incentivar boas práticas e tecnologias sustentáveis no campo, se entendido como estratégia de gestão integrada de risco. “Ele funcionaria como um indutor para decisões que melhoram a resiliência aos riscos de mercado e às mudanças do clima. Uma sugestão desse estudo é que o mercado poderia diferenciar clientes de acordo com a estrutura produtiva. Se as fazendas que incorporam boas práticas tornam-se mais resilientes, também diminuem o risco ao sistema de seguro e, portanto, poderiam ter melhores condições de apólice”, afirma a sócia-gerente da Agroicone e coautora do estudo, Leila Harfuch.
A pesquisadora observa que essa mudança, de cunho institucional, poderia contribuir para disseminar a cultura do seguro rural e a decisão do produtor para investir em boas práticas e tecnologias sustentáveis na propriedade. “A principal dificuldade é obter informações individuais dos sistemas produtivos, que sejam facilmente auditáveis”, observa Leila.
Os autores do estudo observam que o Ministério da Agricultura vem ampliando recursos destinados ao seguro rural e promovendo medidas para consolidar a cultura de gestão de riscos. Entre essas medidas, o monitor do seguro rural (ambiente que aproxima produtores e seguradoras para esclarecimento de dúvidas), o apoio a formação de peritos, a estruturação de grupos de trabalho para a discussão de temas nevrálgicos do setor. Destaca-se também o aprimoramento do ZARC – Zoneamento de Risco Climático e o fomento à novos produtos de seguro como o paramétrico, além de inovações em tecnologia – como a capacidade de monitoramento remoto – e financeira, como o Open Finance (open banking + open insurance). Todavia, permanecem desafios para melhorar a previsibilidade dos recursos, em razão de serem discricionários e sujeitos a contingenciamentos.